segunda-feira, 30 de março de 2009


SONETO NÚMERO 6

O meu amor é burro como dois escravos,
a quem a liberdade, a sós, escravizou.
Seria no silêncio um gato preto ao cravo,
andando sem compasso, dedilhando a dor.

O meu amor é duro e em nada sabe o passo
à dúbia inteligência que abortou sem cor.
Seria na bonança um raio errando o espaço,
riscando como um cão as fezes do pavor.

O meu amor é pardo como o dia à noite;
um rei sem seu reinado, sem as calças, nu,
co'o cheiro da tristeza como um peixe cru.

Navega a longitude desse amor pagão,
rezando pr'uma virgem de um doente são:
o meu amor bizarro, burro dia e noite.

wbl in O AEDO, 1988.

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