quinta-feira, 19 de março de 2009
POEMA BUFO-CAVALHEIRESCO EM MEMÓRIA DE UM POETA QUASE MORTO POR SUA MUSA QUE NINGUÉM CONHECIA...
Saber o dia dos festejos desta morte,
e vivê-lo docemente, e como um corte
doar ao tempo o desejo de curá-lo...
Mas, sejamos fortes,
como agulhas que procuram
a sorte das veias, busquemos a cor
da paixão que imanta o norte: acima das horas,
trato como minhas todas as senhoras,
e de prostitutas faço as angústias
que nos trazem as andorinhas...
Neste dia, o mesmo em que soubeste
como ria a menina louca que sonhava ser rainha -
mesmo sendo como acima lias, mesmo vendo
que ressurgiremos das asas de um acorde como um grito
de fome e disforme, perdida a memória na história
de um país sem saudade de nada,
a não ser da glória que nunca acontecia -
foi então, que um soldado civil – um paquistão –
em passagem no Brasil, encomendou a alma à sorte
de um pagão, como quem soubesse (e ainda sorria)
do oposto da palma da mão que dizia, com dentes de búzios,
que fazendeiro é quem cria vaca pra colher
bosta no interior da Bahia...
Uma data e só a hora faz do medo um calendário,
onde arrasta a asa preta o ossuário, e se faz de cabra-cega
e noutra casa faz a entrega, onde poste a sua cor, e neste número
chamem de calvário este novo aniversário, que faz reunir a família,
o cachorro, o florista, registrando memorável o fotogênico memorial,
estrelando o seu artista – qual de nós o próximo, o ideal? –
quando no dia do aniversário da morte fosse noite,
e dentro da noite a própria morte viesse contar pros vivos
que o seu mármore é pesado, frio, duro como um gelo ou
um continente, um menino descontente ou um coiote.
Hoje há uma estrela no céu de quem mente mas seduz,
e assim se come a hora e comemora e vai-se embora,
sem saber se a vida vale mais que o seu dilema, dois beijos
quase doces ou um telefonema, e que o hiato seja breve
entre a porta e o que não abre,
a rosa que fecha,
um cordão
ou um poema.
wbl
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