quarta-feira, 25 de março de 2009


BEIJO

Noite de espera e esmorecimento. Anjos com tochas e crianças dormentes. Seus olhos revelam os jogos da extirpação.
A febre e os dedos crispados. A pele desenhada por inchações. Sexo e unhas mutilados.
Início de putrefação em algumas extremidades provocada pelos membros enforcados. Pequenos cortes à altura das costelas por onde se observa uma membrana ressequida. Por uma abertura maior vasa ainda a respiração.
Os olhos perfurados giram em movimentos desconexos sob os coágulos. Os lábios foram decepados – lentamente – criando quase um sorrido pela exposição dos dentes.
Rápidos suspiros e convulsões. O corpo se curva, atirando a cabeça para trás.
Convulsões – agora nervosas e ininterruptas.
Urina e fezes misturam-se ao sangue quando a cabeça, em histeria, sufoca a si mesma.
Silêncio e reflexão.
Doce de amêndoas, chá e torradas.

wbl, in O silêncio e o labirinto

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