segunda-feira, 31 de agosto de 2009




Se de menina é feita esta mulher,
é na mulher que a chama acesa dorme.
Seu coração é o seu jardim secreto,
mas dentro dele é amor que se descobre.

É delicado encanto o seu mistério,
embora emoldurado na razão,
pois se olhas fundo, vês a partitura
de uma ternura doce de canção.

Esconde-se no sol o seu silêncio,
e sob a lua o seu sorriso dança:
o fogo é melodia em seu incêndio,

toda beleza o seu mistério alcança.
Se na mulher a chama acesa dorme,
do seu amor meu fogo não se cansa.

wbl

quinta-feira, 27 de agosto de 2009


O MAPA

Tanto de ti em mim eu guardo e reconheço,
que nos teus olhos eu relembro o meu espelho.

Hoje penso, ante a selva azul deste oceano,
que os acasos também se fazem de desejos,

e embora não saibamos até quando ou onde
bate o relógio ou chega o plano dessa estrada,

eu chego a pressentir que o meu e o teu caminho
são sonhos de um vinhedo para um raro vinho...

Que o campo desta safra seja a nossa casa,
aberta para sempre, e assim iluminada.

WBL


POEMA PARA UMA MULHER AZUL

Ela é a música e a alegria de um lugar que não se esquece. Seu corpo nasce na noite que a minha fogueira alimenta.
No berço de sua palavra uma partitura é lembrada como um pássaro que se vê. É sua semente a explosão em branco que toca a onda.
Ela é a chuva, a casa, a mulher e a criança. Veste-se em tudo sua alegria que vibra, e em cada corda de sua beleza um mesmo instrumento canta seu júbilo.
Peixes e estrelas desceram da noite para iluminar sua passagem. Para o dia que nasce ela é o peito e a voz que declara a vida. O seu corpo é amor, e assim é toda verdade.

wbl in A MÚSICA DA LUZ

sexta-feira, 21 de agosto de 2009


VÊNUS

À silhueta magra de sua presença
reduz-se a voz, opõe-se a força,
renuncia o silêncio.
O seu silêncio é lúcido
como um pássaro sobre um touro,
e traz, em sua úmida intimidade,
o riso que pede,
o senho que sabe,
a palavra muda.
O seu olhar tem na semente
a certeza do fruto alto,
e ela não sabe ser mais
que a simples natureza,
quando guarda nas mãos
a pressentida sombra,
a elevada e pressentida sombra
da presença de um deus.

wbl, in OS RITMOS DO FOGO

quinta-feira, 20 de agosto de 2009


GEOGRAFIA DA MEMÓRIA


Amo o teu cheiro, o teu jeito,
o beijo do oceano
que derramas em mim.
Amo a palavra
distribuída nas sílabas de tua coluna,
e amo a frase inteira
que o meridiano dos teus quadris circunda.
Amo a ciência dos teus joelhos
e o ângulo agudo dos teus cotovelos;
amo a atmosfera do teu pelo, a lua
no cabelo e a claridade do espelho
em cada uma de tuas unhas.
Amo a estreita circunferência
que a tua cintura enriquece,
e em tuas pernas os caminhos
por onde o teu banho desce.
Amo os teus olhos,
que os meus olhos nunca esquecem,
e os incêndios que a tua língua
ateia em minha pele, despertando cada poro
que se acorda dormente, mas que sente, e sente, e sente...
Amo os teus braços de dulcíssima firmeza
quando os meus braços os cingem,
e eles fingem ser asas
para que me carregues até a mais alta
das encostas, onde outra vez
eu te amo, amando tudo em ti,
o teu gemido,
o teu silêncio,
a tua resposta.

weydson barros leal, in A Quarta Cruz

POÉTICA

Sobre a cama, só, ela escreve na parede do quarto:
"Anarquia que sabe o meu desejo profundo,
eu quero beber o sêmen do mundo,
enquanto o dia for apenas provisório...
Sinto-me eterna como um morto que sonha...
Ele está nu, e dança sobre a sala,
o meu segredo é somente o que se fala,
o púbis me pulsa a úmida fome..."

E com o travesseiro entre as pernas, dorme...

wbl

quarta-feira, 19 de agosto de 2009


O calendário emoldura a janela com sua rede de pêndulos e ponteiros. Na rua o tempo desfila o seu cortejo. Três dias, ou dois dias e meio, para o sábado. Uma névoa é um véu sobre o céu do Rio. O jornal anuncia a chegada do frio para os próximos dias. Mas eu espero um balão, um foguete, um avião, e hei de fazer uma fogueira na sala da minha casa...

wbl

terça-feira, 18 de agosto de 2009


O que fazer para acelerar o relógio e disparar o calendário?...

...

domingo, 16 de agosto de 2009


"Agora, Romeu é amado e ama, igualmente encantados ambos pelo feitiço dos olhares.(...) Ela, do mesmo modo apaixonada, conta ainda com menos meios para encontrar-se em algum lugar com seu novo amor. Mas a paixão lhes dá força e meios, o tempo para se encontrarem, temperando tais extremidades com extrema doçura"

(Romeu e Julieta, William Shakespeare)

sexta-feira, 14 de agosto de 2009



A cidade precisava de rosas, e eu as criei. Havia no rio sepulturas com vida e uma constelação de vazios no céu de verão. Manhã verde. Eu sei da magia ao incêndio das nuvens, mas não há nuvens nem esperança alguma. O silêncio reabre seus olhos. Invento remorsos e vejo portas com luzes: peixes e pessoas cujos olhos dependem do estudo das profundidades. Tarde que ergue seus braços a guardar o dia; sinos e cisternas que fervem perfumes; estandartes de orquestras; túnicas brancas e cruzes. Noite que aproxima seu peito sobre o dia das casas. Noite de esferas e escadas escuras. Noite de populações de ausências. O silêncio dos nichos vazios; o silêncio das febres e dos santos de alguns dias; o silêncio das invenções.

wbl

terça-feira, 11 de agosto de 2009


O dia foi bom, choveu pela manhã, à tarde o sol voltou e a temperatura no Rio de Janeiro recupera a lembrança de algum éden montanhoso, de um paraíso habitado. Não há outro lugar sobre a Terra onde a paisagem e a temperatura se combinem tão bem, alimentando em tudo a sensação da beleza viva, de uma atmosfera de lugar quase imaginário... O dia foi azul, ele diria, já esquecendo da chuva matinal que apenas fez brilhar as pedras e as florestas que avista de sua janela, em São Conrado. O dia, como quase sempre, seria seu paraíso habitado pela cidade, mas hoje há a presença de um nome que habita o seu coração.

wbl

segunda-feira, 10 de agosto de 2009


De repente 20 anos se apagam e 20 dias parecem uma eternidade...

wblpp

PARADISO


lembra-me seu sorriso
quando parecia ser feliz,

ou sua mão - sua outra
eternidade, pequena como

a distância que dissolve
o comboio do tempo,

quando sobre o meu silêncio
derramava o seu silêncio,

como em um jarro,
que precisa da cor para

parecer com a vida,
pois sua eternidade

é o seu sentido,
paradiso.


wbl

quinta-feira, 6 de agosto de 2009


São semelhanças de gosto, vizinhanças de signo, coincidências que atiçam vontades e estimulam o conhecimento. Também o reconhecimento do outro em nosso espelho, em nossas palavras, em nossos calendários. Sagitarianos são tão perigosos que deveriam, para o bem dos outros signos, ser proibidos de se cruzar, de se associar, de se acasalar. Não conheci até hoje quem seja fruto de tão raro cruzamento, de tão inflamada e explosiva mistura de fogos. Como jogar fogo dentro de uma fogueira? Como aumentar a luz do sol? Como arder além do que o corpo suporta? Creio que a única maneira é oferecer nossos corpos à luz, aproximar-se do calor, mexer suas brasas, alimentar a fornalha...

wbl

segunda-feira, 3 de agosto de 2009



Somos trampolins para a vida, não temos medo de riscos, de limites, de desafios, não temos medo de nada. Somos feitos de fogo, de sonhos, de aventuras, por isso somos eternos, mesmo na lembrança. Dizem que sagitarianos são volúveis, inapreensíveis..., pode ser, mas em cada segundo de nossa volubilidade vivemos uma eternidade.

para Patrícia, sagitariana como eu.
wbl