quarta-feira, 16 de abril de 2008

CINEMA




"Um beijo roubado"
Título Original: My Blueberry Nights (França/ China/ Hong Kong, 2007)
Direção: Kar Wai Wong
Elenco: Norah Jones, Jude Law, David Strathairn, Natalie Portman, Hector A. Leguillow, Rachel Weisz, LaVita Brooks, Nate Bynum, Chad R. Davis, Trent Dee, Frankie Faison


Eis a história da solidão. Temos aqui a delicada narrativa do mais antigo dos destinos humanos. Ou de sua angústia, ou de sua certeza, ou de sua negação: a solidão em todos os seus matizes, em todos os níveis, desde a mais clara até a que não se quer ver ou reconhecer.
Desde o início, o que o filme parece nos dizer é: olha, todos somos sós e não há saída. Mas de cara o espectador percebe que as personagens de Norah Jones e Jude Law têm um destino óbvio. Por isso, não é isso o que importa, e como uma metáfora do próprio enredo, que consiste numa longa viagem, o que vale não é onde se vai chegar, mas o caminho, os percalços e a paisagem que somos capazes de apreender. O filme é primoroso em fotografia (utilizando com mestria recursos digitais para aproximação e redução da velocidade de gestos e passagens) e no texto, com diálogos simples e precisos, às vezes resvalando em parábolas ou aforismos sobre o próprio tema - a solidão - quando logo de cara brinca com a simbologia de chaves e portas. É um filme cheio de poesia, de silêncios que gritam, de vozes sussurradas no mais belo timbre de Norah Jones - que se mostra uma atriz bem razoável - e com ótimas atuações de Jude Law, Rachel Weisz e da sempre estonteante Natalie Portman. Destaca-se a magistral participação de David Strathairn, como o policial abandonado pela mulher (Rachel Weisz) que passa as noites enchendo a cara num balcão solitário de um bar de solitários. Por tudo isso, talvez não se possa dizer qual personagem seria a protagonista do filme. Um palpite seria Norah Jones, mas logo concluímos que a grande, a incomparável e avassaladora protagonista é, antes e depois de cada homem e mulher no filme e na vida real, a irreversível solidão humana.

terça-feira, 15 de abril de 2008

O AMOROSO


Mr. Lovecraft - O senhor não pode imaginar, querido amigo, mas estou apaixonado e me sinto o mais feliz dos homens. Ainda assim sofro por uma impossibilidade à realização imediata desse amor...
Mr. Windflow - Meu caro Lovecraft, é sempre melhor esperar o amor do que vivê-lo: a espera é um sonho, e a experiência futura desse sonho acarretará perigos e sofrimentos, então, dê-se por feliz completamente!
Mr. Lovecraft - O senhor não entende, Mr. Windflow, mas a mulher que eu desejo é comprometida!
Mr. Windflow - Então o problema é menor do que eu imaginava!
Mr. Lovecraft - Como assim? Sofro por não poder tê-la comigo!
Mr. Windflow - Não se preocupe, meu caro, em breve a relação que ela vive irá acabar, e se ela sabe de sua paixão, então o amigo poderá viver o que deseja logo logo! Será o primeiro a ser avisado! As mulheres não esquecem seus pretendentes! Ela já o guarda em bom lugar!
Mr. Lovecraft - Como o senhor pode saber! Ela é uma mulher feliz, e seu casamento parece ser para sempre, ela é muito bem casada!
Mr. Windflow - Ora, meu querido Lovecraft, você é mesmo um romântico! Preciso lhe dizer que os casamentos felizes são vitrines para inocentes. Por dentro, estão todos trincados. Logo serão pedaços de vidro barato... É uma questão de tempo...
Mr. Lovecraft - Mas até quando?
Mr. Windflow - Ah, por enquanto viva a melhor parte do amor, que é o idílio do desejo com o objeto sonhado. Em breve o casamento de sua amiga irá desmoronar e será a sua vez de viver a realidade: a partir daí os dias começam a ser contados. Outro estará à espera do que também fatalmente acontecerá, e a vida segue...
Mr. Lovecraft - Meu Deus! Não sejamos tão pessimistas!
Mr. Windflow - Muito pelo contrário! Se não estiver sendo realista demais, serei apenas otimista para com o amigo! O casamento de sua amiga irá acabar mais cedo ou mais tarde, aliás como tudo e todos, e então o amigo terá sua chance. Viva a doce espera! Enquanto isso, desfrute um pouco mais de sua solteirice, que é o que ainda lhe permite desejar o amor de sua amiga! Em breve, você estará aqui para contar-nos algo que já sabemos!

sexta-feira, 28 de março de 2008

TEATRO


Mrs. Sunflower – (inquisidora) E o senhor, Mr. Windflow, quando deixará de ser sozinho e formará uma família?
Mr. Windflow – (quase tímido) Ora, Mrs. Sunflower, vivo acompanhado de tantas idéias que não me sobra muito tempo para especular sobre a solidão, se é que ela existe, o que não acredito muito. Ser só é algo impossível para os que estão ocupados com tantos livros... Quanto a mim, apenas busco organizar o meu espírito, e posso lhe garantir que isso dá trabalho. Tento compreender parte das angústias humanas, como essa, que a senhora revela ao se preocupar comigo...
Mr. Overwall – (quase com espanto) Mas o senhor pretende mesmo permanecer solteiro o resto da vida? Não sente falta de dividir a vida com uma mulher e filhos?
Mr. Windflow – (rindo levemente) Eis a melhor resposta para essa questão e para a minha humilde decisão, Mr. Overwall. Sua pergunta responde tudo. A vida já é demasiadamente fragmentada pelas reflexões existenciais e pela luta da sobrevivência. Não nos sobra muito tempo para respostas sobre a nossa condição. É preciso que alguém se submeta a essa experiência para poder contar, de onde estou, o que é observar tantas famílias felizes em nossa sociedade. O que posso lhes dizer, meus amigos, é que a cada dia me sinto mais certo de minha condição, e nada me proporciona maior prazer do que vê-los tão bem e talvez por isso preocupados com a minha povoadíssima solidão...

quinta-feira, 27 de março de 2008

LIVROS DE HISTÓRIAS


Mr. Bit - A história é escrita pelos vencedores, eis a verdade!
Mr. Bite - Pode ser. Mas depois de ouvir duas testemunhas oculares de um acidente de carro, você passa a questionar qualquer história.

domingo, 23 de março de 2008

PEDRA FILOSOFAL 2



As pessoas casam-se por falta de juízo, separam-se por falta de paciência e casam-se novamente por falta de memória.

terça-feira, 18 de março de 2008

PEDRA FILOSOFAL 1


"Casar pela segunda vez é o triunfo da esperança sobre a experiência."

Samuel Johnson (1708-1784) - crítico e poeta

TEATRO


Mrs. Cagelover – Que lindos pássaros, Mr. Hunter! Gostaria de saber como mantém tantos bichinhos coloridos para alegrar suas manhãs!
Mr. Hunter – Meus pássaros são a minha mais valiosa coleção, Mrs. Cagelover! Quanto mais os tenho, mais os quero!
Mrs. Cagelover – O que o senhor pensa, Mr. Windflow? Não é uma alegria ter tantos pássaros nos terraços de uma casa?
Mr. Windflow – Acho uma pena, madame, aprisionar a beleza que, em sua essência, deve ser livre. Ao redor de minha casa, numa rua bastante movimentada, escuto os pássaros nas árvores durante o dia inteiro. Às vezes ponho alguns grãos em meu terraço e eles me fazem visitas, retribuindo com breves melodias e retornando à natureza...
Mr. Hunter – Ora, Mr. Windflow, não seja romântico! Colecionar pássaros, e de canto tão raro, é um gosto refinado e para poucos! Eis o amor à beleza!
Mrs. Cagelover – (olhando para as gaiolas douradas) – Sim, Mr. Windflow, não seja desagradável!
Mr. Windflow – (com o riso da inteligência) Perdão, minha senhora! É que no dia em que nós, os ditos civilizados, adorarmos os nossos pássaros como os indianos adoram suas vacas, ou seja, em liberdade, desfrutaremos muito mais da beleza de suas cores e de seus cantos. Esta é a nossa limitação: uma impossibilidade de liberdade que nos torna adoradores desses cárceres dourados em que a natureza é destituída de toda dignidade e talvez cante para não morrer de tédio ou tristeza.
Mr. Hunter (com o riso da superioridade) - Ora, ora, Mr. Windflow! Os indianos são adoradores primitivos! Não nos compare a eles, por favor!
Mr. Windflow (resignado) - Estou certo, Mr. Hunter, que o respeito dos indianos por suas vacas ainda é mais verdadeiro do que nossa admiração por qualquer pássaro que, notoriamente existindo para ser livre, é aprisionado apenas para um deleite egoisticamente desumano.

segunda-feira, 17 de março de 2008


O Andarilho
Friedrich Nietzsche

Quem chegou, ainda que apenas em certa medida, à liberdade da razão, não pode sentir-se sobre a Terra senão como andarilho – embora não como viajante em direção a um alvo último: pois este não há. Mas bem que ele quer ver e ter os olhos abertos para tudo o que se passa no mundo; por isso não pode prender seu coração com demasiada firmeza a nada de singular; tem de haver nele próprio algo de errante, que encontra sua alegria na mudança e na transitoriedade. Sem dúvida sobrevêm a um tal homem noites más, em que ele está cansado e encontra fechada a porta da cidade que deveria oferecer-lhe pousada; talvez, além disso, como no Oriente, o deserto chegue até a porta, os animais de presa uivem ora mais longe ora mais perto, um vento mais forte se levante, ladrões lhe levem embora o que tem para sobrevivência. É então que cai para ele a noite pavorosa, como um segundo deserto sobre o deserto, e seu coração se cansa da andança. Quando surge o sol da manhã, incandescente como uma divindade da ira, ele vê nos rostos dos quais aqui moram talvez ainda mais deserto, sujeira, engano, insegurança, do que fora das portas – e o dia é quase pior que a noite. Bem pode ser que isso aconteça às vezes ao andarilho; mas então vêm, como recompensa, as deliciosas manhãs de outras regiões e dias, em que já no alvorecer da luz ele vê, na névoa da montanha, os enxames de musas passarem dançando perto de si, em que mais tarde, quando ele, tranqüilo, no equilíbrio da alma de antes do meio-dia, passeia entre árvores, lhe são atiradas de suas frondes e dos recessos da folhagem somente coisas boas e claras, os presentes de todos aqueles espíritos livres, que na montanha, floresta e solidão estão em casa e que, iguais a ele, em sua maneira ora gaiata ora meditativa, são andarilhos e filósofos.

sábado, 15 de março de 2008

FÁBULA

Pousada na janela, olhando a cobra dentro de um vidro na mesa sob a qual o caçador dormia bêbado e urinado, a coruja pensou:
- Muitas coisas podem ser preservadas em álcool. Dignidade não é uma delas.

quarta-feira, 12 de março de 2008



O RONRON DO GATINHO
Ferreira Gullar


O gato é uma maquininha
que a natureza inventou;
tem pêlo, bigode, unhas
e dentro tem um motor.

Mas um motor diferente
desses que tem nos bonecos
porque o motor do gato
não é um motor elétrico.

É um motor afetivo
que bate em seu coração
por isso faz ronron
para mostrar gratidão.

No passado se dizia
que esse ronron tão doce
era causa de alergia
pra quem sofria de tosse.

Tudo bobagem, despeito,
calúnias contra o bichinho:
esse ronron em seu peito
não é doença - é carinho.

MONEY



Tese
Tudo tem um preço.

Antítese
Há coisas que o dinheiro não pode pagar.

terça-feira, 11 de março de 2008

TEATRO

Ms. Sunflower (enfática)- Oh, Mr. Windflow, o senhor é mesmo encantador! Um poeta, e ainda conhecedor de outras artes! Uma sensibilidade assim não se vê nos dias de hoje!
Ms. Sanderson (quase tímida) - Os homens andam desprovidos dos dons da sensibilidade!
Mr. Windflow (sorrindo) - Fico lisojeado, senhoritas! Aceitam mais um champanhe?
Ms. Sunflower (sedutora) - Não se pode mesmo resistir ao senhor, Mr. Windflow! Pois saiba que será responsável pelo meu comportamento! E se eu me apaixonar?
Ms. Sanderson (rindo, tímida) - O senhor sabe como fazer uma mulher realmente adorá-lo!
Mr. Windflow (delicado, entre risos) - Ora, não se preocupem, vivam o dia de hoje! Afinal, quando chegar a hora, eu também saberei fazer vocês me odiarem...

segunda-feira, 10 de março de 2008


A PALAVRA SEDA
João Cabral de Melo Neto

A atmosfera que te envolve
atinge tais atmosferas
que transforma muitas coisas
que te concernem, ou cercam.

E como as coisas, palavras
impossíveis de poema:
exemplo, a palavra ouro,
e até este poema, seda.

É certo que tua pessoa
não faz dormir, mas desperta;
nem é sedante, palavra
derivada da de seda.

E é certo que a superfície
de tua pessoa externa,
de tua pele e de tudo
isso que em ti se tateia,

nada tem da superfície
luxuosa, falsa, acadêmica,
de uma superfície quando
se diz que ela é “como seda”.

Mas em ti, em algum ponto,
talvez fora de ti mesma,
talvez mesmo no ambiente
que retesas quando chegas

há algo de muscular,
de animal, carnal, pantera,
de felino, da substância
felina, ou sua maneira,

de animal, de animalmente,
de cru, de cruel, de crueza,
que sob a palavra gasta
persiste na coisa seda.

sábado, 8 de março de 2008



"A todas vós, que já fostes ou que sois amadas como um ícone guardado na gruta da alma, qual uma taça de vinho à mesa de um banquete, ergo o meu crânio repleto de versos."

Vladimir Maiacovski


Homenagem de Mr. WBLog ao Dia Internacional da Mulher

quinta-feira, 6 de março de 2008

TEATRO


Mr. Worthing (fazendo um brinde) - Deus nos dá nossos parentes! Mas graças a Deus podemos escolher nossos amigos!
Lady Bracknell - Sr. Worthing, confesso que me sinto um tanto perplexa com o que o senhor acaba de dizer. Vir à luz ou crescer numa maleta de mão, tenha alça ou não, parece-me uma prova de desprezo pela decência da vida familiar que me faz lembrar os excessos da Revolução Francesa. E suponho que o senhor saiba no que deu esse lamentável movimento.
Lord Nelson (despertando de um cochilo) - A família é o inferno de todos nós, madame...
Mr. Worthing (irônico) - Minha senhora, a harmonia da qual a senhora fala é como um fosso de castelo aonde são despejados todos os detritos de seus moradores.
Lord Nelson (cochilando) - Hoje em dia seria uma fossa no quintal...
Mr. Worthing (conclusivo) - De qualquer maneira, eu ainda preferiria um quintal anônimo. Me horroriza a idéia de estar mergulhado numa fossa cujos detritos fossem de minha família. Seria como conviver com o pior de cada um deles...
Lady Bracknell - Estou horrorizada, Mr. Worthing!
Lord Nelson (despertando com um bocejo) - O Sr. é um otimista, Mr. Worthing...

terça-feira, 4 de março de 2008

AS CIDADES E O CÉU



- Qual é o sentido de tanta construção? - pergunta. - Onde está o plano que vocês seguem, o projeto?
- Mostraremos assim que terminar, agora não podemos ser interrompidos - respondem.
O trabalho cessa ao pôr-do-sol. A noite cai sobre os canteiros de obras. É uma noite estrelada.
- Eis o projeto - dizem.


Italo Calvino, in As Cidades Invisíveis



Ao chegar a uma nova cidade, o viajante reencontra um passado que não lembrava existir: a surpresa daquilo que você deixou de ser ou deixou de possuir revela-se nos lugares estranhos, não nos conhecidos.

Italo Calvino, in As Cidades Invisíveis

ORÁCULO


“O artista tem que ser gênio para alguns e imbecil para outros. Se puder ser imbecil para todos, melhor ainda.”

Nelson Rodrigues



Não te amo como se fosses rosa de sal, topázio
ou flecha de cravos que propagam o fogo:
te amo como se amam certas coisas obscuras,
secretamente, entre a sombra e a alma.

Te amo como a planta que não floresce e leva
dentro de si, oculta, a luz daquelas flores,
e graças a teu amor vive escuro em meu corpo
o apertado aroma que ascendeu da terra.

Te amo sem saber como, nem quando, nem onde,
te amo diretamente sem problemas nem orgulho:
assim te amo porque não sei amar de outra maneira,

senão assim deste modo em que não sou nem és,
tão perto que tua mão sobre meu peito é minha,
tão perto que se fecham teus olhos com meu sonho.


Pablo Neruda

domingo, 2 de março de 2008

POESIA


MADRIGAL MELANCÓLICO
Manuel Bandeira


O que eu adoro em ti,
Não é a tua beleza.
A beleza, é em nós que ela existe.

A beleza é um conceito.
E a beleza é triste.
Não é triste em si,
Mas pelo que há nela de fragilidade e de incerteza.

O que eu adoro em ti,
Não é a tua inteligência.
Não é o teu espírito sutil,
Tão ágil, tão luminoso,
- Ave solta no céu matinal da montanha.
Nem é a tua ciência
Do coração dos homens e das coisas.

O que eu adoro em ti,
Não é a tua graça musical,
Sucessiva e renovada a cada momento,
Graça aérea como o teu próprio pensamento.
Graça que perturba e que satisfaz.

......................................................

O que eu adoro em ti – lastima-me e consola-me!
O que eu adoro em ti, é a vida.

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

FICÇÕES BURLESCAS EM TORNO DE UM FIACRE .......


Lady Plimdale - Hoje em dia é muito perigoso para um marido ser atencioso com sua mulher em público. Faz as pessoas pensarem que ele a espanca quando estão a sós. O mundo passou a suspeitar muito de tudo o que se assemelha a uma vida conjugal feliz.
Frau Jagemann - Acho que o amor satisfeito conduz mais freqüentemente à infelicidade do que à felicidade...
Mr. Wilde - O que pensa o senhor, Herr Lichtenberg?
Herr Lichtenberg - O caminho mais seguro para a tranqüilidade da alma é não ter nenhuma opinião, meu caro.

OVERTIME


Não sei o que é a vida eterna. De qualquer maneira, me parece uma brincadeira de mau gosto.

Voltaire

NO VELÓRIO


MR. WILDE - É terrível para um homem descobrir de repente que durante toda a sua vida só falou a verdade.

HR. IBSEN - Não me creiam, se não quiserem, mas as verdades não têm, como imaginam, a resistência de um Matusalém.

SR. NELSON - Na hora de morrer, e quando sabe que está morrendo, todo homem tem um olhar de contínuo.

MR. DURRELL - A verdade é o que existe de mais contraditório, mas às vezes não há nada de mais cruel que a franqueza.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

GRAY TIME


HALLWARD - As pessoas pagam um preço terrível por viver apenas para si mesmas, não é mesmo?
LORD HENRY - Sim, hoje em dia tudo está caríssimo.

Oscar Wilde, in O Retrato de Dorian Gray

SOUVENIR


Recordo-me das palavras que Balthasar escreveu algures na sua grande letra de gramático: "Vivemos de ficções seletivas".

Lawrence Durrell

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

DIÁLOGO


Carpeaux - Há no mundo uma força mais poderosa do que o espírito, o sofrimento e a própria loucura: é o símbolo terrestre do infinito, a tolice humana.
Nelson - Por isso invejo a burrice, porque é eterna.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Hã!?


Tratem bem os seus filhos. São eles que irão escolher o seu asilo.

DICA


"Se você não costuma ter sucesso de primeira, pára-quedismo não é para você."

Roger H. Lincoln

ORÁCULO


“Em todas as comunidades, há de tudo. O sujeito quer um santo? Há um santo. Quer um pulha? Há um pulha. Um gênio? Bem. O gênio, não sei por quê, é mais difícil do que o santo ou o pulha.”

Nelson Rodrigues, um raríssimo gênio brasileiro.

ENTALADO



25/02/2008 - 08h23 Britânico morre engasgado em torneio de comer bolo

Um homem britânico de 34 anos morreu no fim de semana após engasgar durante uma competição para ver quem comia a maior quantidade de bolo. A competição, realizada em um bar da cidade de Swansea, no sul do País de Gales, era parte de uma festa para arrecadar fundos para uma exposição de arte. A polícia local abriu um inquérito para apurar as circunstâncias da morte, mas disse que não há suspeitas de crime e que tudo não passou de um "acidente". Após o homem desmaiar, supostamente com bolo entalado na garganta, os funcionários e freqüentadores do bar tentaram reavivá-lo, mas as tentativas foram em vão.

domingo, 24 de fevereiro de 2008

COZINHA


BOLO DE FUBÁ

Ingredientes
2 xícaras (chá) de fubá
2 ovos
1 colher (sopa) de fermento em pó
1 xícara (chá) de farinha de trigo
2 colheres (sopa) de margarina
1/2 xícara (chá) de óleo
2 xícaras (chá) de açúcar
1 xícara (chá) de leite
1 colher (sopa) de sementes de erva-doce
Margarina e farinha para untar e enfarinhar

Modo de Preparo
Em uma tigela, misture todos os ingredientes até ficar uma massa homogênea. Coloque em uma fôrma de buraco no meio de 30cm de diâmetro untada e enfarinhada. Leve ao forno médio, preaquecido, por 25 minutos ou até que, ao enfiar um palito, ele saia limpo. Retire do forno, espere esfriar e desenforme.

sábado, 23 de fevereiro de 2008

OFFERTORIUM



Se um Deus fez este mundo, eu não gostaria de ser esse Deus: a miséria do mundo me esfacelaria o coração.


A. Schopenhauer

MRS. ROBINSON



Mr. W. - Ora, ele é um homem velho demais pra ela, madame. Além disso, faltam-lhe os modos de qualquer educação...
Mrs. Robinson - Talvez seja um paradoxo, em se tratando de alguém que ganha muito dinheiro...
Mr. W. - E para um quadro completo, eu garanto: ele é muito feio. Como é que Ms. Templeton foi se encantar por um homem desses? Afinal, ele só tem dinheiro!
Mrs. Robinson - E você acha pouco, meu caro?

DIÁLOGO



- Todos sabem o que é o amor - disse a senhora, aparentemente desejosa de interromper aquela conversa.
- Mas eu não sei - disse o cavalheiro. - É preciso definir o que a senhora compreende como tal.
- Como? É muito simples - disse a senhora. - O amor constitui uma predileção exclusiva por um homem ou uma mulher, dentre todos os demais.
- Uma preferência por quanto tempo? Um mês? Dois dias, meia hora? - disse o senhor grisalho.
- Não, perdão, o senhor provavelmente fala de outra coisa.
- Não, é sobre isto mesmo.

Sonata a Kreutzer, Leon Tolstoi

MÁXIMAS



"Isso não me agrada." - Por quê? - "Não estou à altura disso." - Algum homem já respondeu assim?

F. Nietzsche

DIÁLOGO



Mr. J.: Pelo amor de Deus, não tente ser cínico. É fácil demais ser cínico.
Mr. A. : Meu caro, atualmente nada é tão fácil... Há muita competição em qualquer coisa.

in A importância de ser prudente (1895), Oscar Wilde

PÁSCOA


Pois bem, ele pensava: - Agora expliquem para as crianças esse coelho e esse ovo!...

PHOTOGRAPHER



A FOTÓGRAFA - Nossa! Fiz belos takes, clicks maravilhosos!
O POETA - Mas... Bateu foto?

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

CINEMA


ANTES DE PARTIR

Título original: The Bucket List (EUA, 2007)
Direção: Rob Reiner
com Jack Nicholson e Morgan Freeman.

Com um diagnóstico de câncer e a previsão de só mais um ano de vida, um homem escreve uma lista de coisas para fazer antes de morrer. Acrescente a essa lista belos lugares para visitar ao redor do mundo. Agora responda: você já ouviu esse enredo? É infalível? Então multiplique por dois. Dois pacientes terminais. Para finalizar, escale para o elenco Jack Nicholson e Morgan Freeman. Sucesso garantido? Cuidado: o tiro pode sair pela culatra. Este é o problema de “Antes de partir”, em cartaz nos cinemas. Um filme com uma história tão clichê que parece não ter saída. E não tem. Mas há nele duas coisas boas: o texto e Jack Nicholson. (Mas o texto original, diga-se de passagem. Pois as legendas, quando não traduzem, estragam a idéia...) Ora, você acha que estou sendo muito ranzinza ou excessivamente rigoroso? Então vejamos. Com o perdão de seus fãs, Morgan Freeman – o magnífico ator de “Um sonho de Liberdade” (1994) – ainda não se livrou do papel de Deus, que repetiu melancolicamente um dia desses. Continua, como sempre, magnífico, mas falta algo aqui. Nesse caso, Jack salva a comédia. Sim, o filme também é uma comédia, e talvez potencializada pela reação do público diante de algo tão óbvio. As pessoas gostam do óbvio. Gostam de ver o que esperam. Assim como adoram saber as respostas de um Quiz de televisão, exatamente como o personagem de Freeman. E choram muito. Quase se esgotam... Num filme como esse, chega a dar pena os velhinhos na platéia, ou aqueles que reconhecem na história um amigo ou familiar. Mas é tudo óbvio. Não se deixe enganar. Quanto a Jack Nicholson, desempenhando o único papel em que é imbatível – o de ser ele mesmo –, ainda se sobressai quando é irônico, cínico, sarcástico, e às vezes até triste, mas com uma pitada de crueldade. Mesmo assim, tendo um hospital como cenário, ele próprio ainda não supera o romântico maluco de “Um estranho no ninho” (1975). E para compararmos sua atuação de hoje com algo não tão antigo, basta ficarmos com “Melhor é impossível” (As good as it gets), que, como comédia, diverte mais. Ou seja, o título de seu filme de 1997, com o qual ganhou o Oscar de melhor ator, ao lado de Helen Hunt, parecia profetizar sobre Jack exatamente o que temos certeza hoje: a partir dali, melhor era impossível.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

FRASES


"Fico cheio de admiração diante da finura, da segurança de julgamento com que vejo as mulheres perceberem certos detalhes; um instante depois, vejo-as levarem às nuvens um tolo, deixarem-se emocionar até as lágrimas por uma banalidade, considerar gravemente como traço de caráter uma medíocre afetação. Não posso entender tanta tolice. Deve haver aí alguma lei geral que desconheço."
STHENDAL

CIÊNCIA HOJE


Chega do Japão a mais nova técnica em Lifting, prometendo levantar o sorriso e reduzir as preocupações femininas com as leis da física e da mãe-natureza. A técnica foi testada com sucesso em moças daquele país oriental, podendo ser aplicada a qualquer hora e lugar, bastando para isso a boa vontade da candidata. Para melhores resultados, pede-se paciência e criatividade.

DIÁLOGO


Mr. Durrell - Depois, ele fazia-a rir - a coisa mais perigosa que se pode fazer com uma mulher porque, depois da paixão, é o riso o que elas mais prezam.
Mr. W. - Mas entenda: as coisas que deflagram ou mantêm essa paixão são a segurança dos dias e as luzes da noite, e para isso, é preciso dispor de dinheiro. Sem ele, Mr. D., uma mulher não vê motivos para rir.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

TEATRO


SOLDADO – Senhor delegado, as notícias que trago não são notícias, são mais que estragos!
DELEGADO – Que dizes, condenado! O que disseste ao governo sobre o nosso estado?
SOLDADO – Disse que a invasão que sofremos foi maior que o esperado, ou melhor, que foi pior, pois tal visitante nunca é aguardado!
DELEGADO – Mas, e quanto à ajuda, ao exército, mandarão algum soldado?
SOLDADO – Por enquanto não creio, senhor! Estamos um tanto desacreditados!

"UM CHÁ MUITO LOUCO"


"Bem, vamos ter afinal um pouco de diversão!", pensou Alice. "Estou contente que tenham começado a propor charadas... Acho que posso adivinhar essa"...
Alice no País das Maravilhas, Lewis Carroll

COZINHA


BOLO DE MAÇÃ

Ingredientes
2 e 1/2 xícaras (chá) de farinha de trigo
2 xícaras (chá) de açúcar
3 ovos
1 xícara (chá) de óleo
1 xícara (chá) de suco de laranja
1 colher (sopa) de fermento em pó
2 maçãs descascadas fatiadas
Margarina e farinha de trigo para untar
Açúcar e canela para polvilhar

Modo de Preparo
No liqüidificador, bata todos os ingredientes, menos o fermento em pó e as maçãs picadas. Em uma tigela, coloque as maçãs, a massa do liqüidificador, o fermento e misture bem com uma colher de pau. Despeje a massa em uma fôrma redonda untada e enfarinhada e leve ao forno, preaquecido, até que, ao enfiar um palito, ele saia limpo. Desenforme e polvilhe com açúcar e canela misturados. Sirva.

POLITIK




A LUCIDEZ DA SENILIDADE

No futuro, os livros de história dirão: “E um dia, Fidel Castro renunciou”. Muito bem. Esta pode ser apenas mais uma manobra política do velho ditador, mas se não for, prova-nos que a senilidade pode dar ao ser humano um último lampejo de lucidez, mesmo quando se trata de um ditador. Ou, enfim, o velho "comandante en jefe" se cansou de ver a própria cara na televisão, e sentiu, pela primeira vez, que o risível de sua decrepitude talvez seja menos grave do que a pobreza a que condenou um país inteiro.

FRASES


"Mas realmente achávamos algum prazer nessa brincadeira, pois ainda estávamos muito próximos dessa idade em que se julga dar vida ao que se nomeia."
Proust

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

CINEMA


O CAÇADOR DE PIPAS

Título original: The Kite Runner (Estados Unidos, 2007)
Direção: Marc Forster
Elenco: Saïd Taghmaoui, Shaun Toub, Atossa Leon, Khalid Abdalla, Navid Negahban, Homayon Ershadi, Kelcie Stranahan, Brian Vowell

Preciso confessar: tenho preconceitos. E o maior deles é contra os livros ditos “Best-sellers”. Como todos sabem, o filme O Caçador de Pipas é baseado num deles. Este, portanto, é um filme que já nasce destinado ao sucesso. Ao sucesso fácil. E isto é ruim. Mas tenho de confessar outra coisa: sempre que consigo ir a um desses filmes, vou com a esperança de que, dessa vez, “este” me faça mudar de idéia. Infelizmente fracassei em todos. Neste caso específico, não sei se o livro é tão óbvio, tão piegas ou tão ruim quanto o filme. Deve ser. Pois deve ser impossível piorar tanto um livro assim. Para quem não viu o filme no cinema, espere em DVD. Se você é um pouco mais exigente ou preza pelo seu dinheiro, espere pelo “Tela Quente” do ano que vem. Mas se é exigente mesmo, daqueles que não saem de casa por qualquer coisa, aproveite melhor o tempo e continue lendo um bom livro que, tenho certeza, não é O Caçador de Pipas.

CINEMA




SWEENEY TODD: O BARBEIRO…

Título original: Sweeney Todd: The Demon Barber Of Fleet Street (EUA, 2007)

Direção: Tim Burton
Elenco: Johnny Depp, Helena Bonham Carter, Alan Rickman, Timothy Spall

O título é longo. Preciosista. Mas reflete o minucioso trabalho de direção de arte, maquiagem e figurinos deste filme que mereceria um Oscar em cada uma dessas categorias. À parte isso, um indefectível Johnny Depp apresenta-nos um pouco de cada bom personagem que já fez: uma pitada de Edward aqui, um pouco de Pirata ali, no fim sendo algo novo e diferente. O filme é quase uma ópera contemporânea. Em alguns momentos, parece um musical inglês, com o toque do genial Tim Burton por todos os lados. Um bom divertimento para os que gostam de humor negro e não têm problemas de estômago.

FATOS

Ser todas as possibilidades que excedem uma definição.

Stendhal

Stendhal é uma enciclopédia. Ainda que possamos discutir os conceitos dessa enciclopédia.

JUSTINE

"Como todas as mulheres, Justine odiava as pessoas de cuja fidelidade tinha a certeza."
Lawrence Durrell

FATOS

Em escritores como Tolstoi e Lawrence Durrell, a exposição da verdade provoca vertigens nos menos acostumados à ação da palavra sobre a sensibilidade. Como se da janela de uma casa avistássemos a natureza humana a fugir da própria memória ou a esconder-se atrás de seu espelho.

domingo, 17 de fevereiro de 2008

POESIA

POEMA PARA UMA MULHER AZUL
Weydson Barros Leal

Ela é a música e a alegria de um lugar que não se esquece.
Seu corpo nasce na noite que a minha fogueira alimenta.

No berço de sua palavra uma partitura é lembrada como um pássaro que se vê.
É sua semente a explosão em branco que toca a onda.

Clara como uma jazida de fogo, o seu minério se expande, concentra, cria e recupera
em suas mãos as fontes do tempo: em sua ciência todo sonho é matéria para um novo espírito.

Ela é a chuva, a casa, a mulher e a criança. Veste-se em tudo sua alegria que vibra,
e em cada corda de sua beleza um mesmo instrumento canta seu júbilo.

Peixes e estrelas desceram da noite para iluminar sua passagem. Para o dia que nasce
ela é o peito e a voz que declara a vida.

O seu corpo é amor, e assim é toda verdade.

FRASES


"Homem algum morre pelo que ele sabe que é verdade. Os homens morrem pelo que desejam que fosse verdade, por aquilo que algum terror em seus corações lhes diz que não é."

Oscar Wilde