sexta-feira, 26 de setembro de 2014

A CATEDRAL
W.B. Leal

No canto do quarto,
os monstros
acordam
suas bocas de gárgula.

São pândegos
toscos:
as bocas sem
dentes
são o brilho contínuo
das úmidas gengivas.

Escuto os soluços,
os espasmos da risada  
e a ridícula
respiração.

Os silvos que
gargalham
são só suas cabeças.
Não há corpo ou
pescoço.
As bocas são a cara inteira.



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sexta-feira, 14 de março de 2014

I SENT ROSES
W. B. Leal

I sent roses 
through the abstract lane
of the night.
I wish the roses
would light her noon.

I sent roses
in the open messages
of what is understood,
and the roses were like
the first day
and always new.

I sent roses
for the one I keep
and guard
inside my book.


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terça-feira, 11 de março de 2014

SEGUNDO RETRATO
W.B. Leal

Aos poucos tudo
voltou a ser sua permanente
lembrança,
como se cada coisa
guardasse, na passagem
dos dias, a imanência do amor,
ou como se o amor -
em constante
emanação -
transformasse o olhar
numa máquina de decifração
do que faltasse em tudo.


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segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

A LEMBRANÇA
W.B. Leal


Se penso nela como sonho ou siso, 
como riso ou estranhamento que 
ao fim do dia são a minha força e 
o meu alento, é porque são dela 
os silêncios e as sementes,
os cimos e as certezas que 
a sua lembrança deixa em mim.
Creio ser dela o relógio que tarda, 
o tempo que conta mas que também 
para, porque é por ela que a lua acende,
e é por ela que os carros correm e a 
cidade, lentamente, parece preparar 
uma festa sempre que o dia começa.
Se agora penso nela com a alegria das 
coisas novas, aquela alegria que 
um menino só sente quando sabe 
estar contente, é porque são dela o meu 
sonho e o meu poema, fervor e encantamento 
por uma mulher que é lágrima e fogueira, 
pétala e pássaro que o dia nunca esquece, 
e por isso eu penso, e canto, e confesso. 


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