domingo, 10 de março de 2013


O PÊNDULO
W. B. Leal

Nas manhãs de domingo ela sentia
a ausência da noite, o silêncio marcado
das construções invisíveis.
Os frágeis andaimes das horas vazias
eram também a maré na areia da praia,
o pêndulo dourado do relógio da sala.
Ela reclamava que a pouca poesia 
que encontrava nos jornais era 
demasiado descritiva, prosa polida,
e sentia falta das pequenas delicadezas, 
das contas lilases que os colares 
antigos, com brilhos de falsa madrepérola, 
faziam reluzir quando imitavam a alegria.
Eram assim as manhãs de domingo,
o sol que escorria como a areia nos vidros, 
quando então ela reinventava os relógios, 
reanimava a certeza do balanço do pêndulo, 
e tudo, por um minuto, voltava a contar 
como pequenas delicadezas. 


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