terça-feira, 18 de março de 2008

TEATRO


Mrs. Cagelover – Que lindos pássaros, Mr. Hunter! Gostaria de saber como mantém tantos bichinhos coloridos para alegrar suas manhãs!
Mr. Hunter – Meus pássaros são a minha mais valiosa coleção, Mrs. Cagelover! Quanto mais os tenho, mais os quero!
Mrs. Cagelover – O que o senhor pensa, Mr. Windflow? Não é uma alegria ter tantos pássaros nos terraços de uma casa?
Mr. Windflow – Acho uma pena, madame, aprisionar a beleza que, em sua essência, deve ser livre. Ao redor de minha casa, numa rua bastante movimentada, escuto os pássaros nas árvores durante o dia inteiro. Às vezes ponho alguns grãos em meu terraço e eles me fazem visitas, retribuindo com breves melodias e retornando à natureza...
Mr. Hunter – Ora, Mr. Windflow, não seja romântico! Colecionar pássaros, e de canto tão raro, é um gosto refinado e para poucos! Eis o amor à beleza!
Mrs. Cagelover – (olhando para as gaiolas douradas) – Sim, Mr. Windflow, não seja desagradável!
Mr. Windflow – (com o riso da inteligência) Perdão, minha senhora! É que no dia em que nós, os ditos civilizados, adorarmos os nossos pássaros como os indianos adoram suas vacas, ou seja, em liberdade, desfrutaremos muito mais da beleza de suas cores e de seus cantos. Esta é a nossa limitação: uma impossibilidade de liberdade que nos torna adoradores desses cárceres dourados em que a natureza é destituída de toda dignidade e talvez cante para não morrer de tédio ou tristeza.
Mr. Hunter (com o riso da superioridade) - Ora, ora, Mr. Windflow! Os indianos são adoradores primitivos! Não nos compare a eles, por favor!
Mr. Windflow (resignado) - Estou certo, Mr. Hunter, que o respeito dos indianos por suas vacas ainda é mais verdadeiro do que nossa admiração por qualquer pássaro que, notoriamente existindo para ser livre, é aprisionado apenas para um deleite egoisticamente desumano.

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