segunda-feira, 6 de dezembro de 2010


O ELO IMPOSSÍVEL
W.B. Leal

Como se fora ausente, e dura, e muda,
como se fora a asa que rompida apaga
a altura do sonho no desejo do voo,
como se fora pedra e peso, ou funda
meditação que ausenta de tudo o corpo
sendo só ausência sua consciência pura,
assim o silêncio inundado de portas e
distâncias nos anula, sem luz, sem nome, sem nada.
A sala preenchida por vultos e vozes
como longas partituras em branco
onde se avistam danças e desenhos
que são outra maneira de lembrar.
Ali, no papel reluzente como a janela
da lua sobre a água, resistem gestos,
olhares, feitos e sentenças livrando da vida
a lembrança encarcerada, o elo impossível
com o que é só ausência e nada pode contar
de um tempo já sem nomes nem calendários.
Como se fora ausente, essa coisa grita, e bate,
e fere, e agora a sua existência sentida
são os vidros da lua perdidos no mar.

Um comentário:

Acácia Azevedo Studio Pottery disse...

Fractais, e do mar, coloridos... Caleidoscópio sem espelhos? Lembranças...Essa artimanha do tempo, nunca brancas, é a própria farsa que ele mesmo estilhaça?