A LEMBRANÇA
W.B. Leal
O azul de sua lembrança descansa na noite que a minha fogueira alimenta.
É a lua o seu sino que se dissolve em manhã.
Ela é a dança e o céu de um jardim que suponho.
Cada letra do seu nome acorda o caminho onde começa a paz.
É doce a sua palavra. Por sua mão os pássaros retornam,
querem o tempo que outra estação inventou,
o leito onde lembram a liberdade que trazem. É a sua verdade
o que amo. O amor é a porta que a minha vontade concentra -
sua certeza é a hora se aproxima e bate.
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quinta-feira, 1 de novembro de 2012
sábado, 27 de outubro de 2012
segunda-feira, 8 de outubro de 2012
DANÇA PARA ISABEL
W.B. Leal
como uma dança secreta
que o corpo dança por dentro
uma fogueira em silêncio
sendo aos poucos descoberta
como um corpo iluminado
ou imolado de réstias
um corpo que dança em si
e no outro se completa
como uma dança que é pública
e o corpo em si a carrega
como uma dança de dois
que já fosse a própria festa
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terça-feira, 2 de outubro de 2012
sábado, 29 de setembro de 2012
A PONTE
W.B. Leal
uma palavra invade a
cidade
e um homem se torna maior
como um rio que tem o seu nome
uma palavra inunda as suas
margens
como uma avalanche de vida
nas margens de um rio minguante
uma palavra reúne o que se espalha
entre um homem e os outros homens
uma palavra
e sua potência de fome
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quinta-feira, 27 de setembro de 2012
A ÁRVORE
W.B. Leal
seja feliz
seja feliz ela dizia
e como um pássaro
nascido na noite
recriava partituras e
dava sentido às sombras
no desenho
das ruas
o catavento da lembrança
agora gira
sobre a sua força
e cada linha de sua
delicadeza é música e
dança
como uma casa onde
há alegria
há algo de
mar em sua grandeza e
muito de árvore em
sua profundidade
como um mar é
perto e longe ou como
uma árvore é a vida que
se expande
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terça-feira, 25 de setembro de 2012
quarta-feira, 25 de julho de 2012
APONTAMENTO
W.B. Leal
Outrora era o tempo
a minha impossível história.
Vestia com datas
o casario das ruas.
Revia os caminhos
como não pode o relógio.
O tempo era minha surpresa antiga.
Agora é a sílaba
então revelada.
Não há a incerteza
que a história descarta.
O tempo é a volta
para sempre marcada.
in OS RITMOS DO FOGO, Topbooks, 1999.
W.B. Leal
Outrora era o tempo
a minha impossível história.
Vestia com datas
o casario das ruas.
Revia os caminhos
como não pode o relógio.
O tempo era minha surpresa antiga.
Agora é a sílaba
então revelada.
Não há a incerteza
que a história descarta.
O tempo é a volta
para sempre marcada.
in OS RITMOS DO FOGO, Topbooks, 1999.
quarta-feira, 4 de julho de 2012
VOLTA À CASA
W.B. Leal
Aqui onde o corpo
é a sua casca preenchida,
o velho jarro é o lado de dentro
da antiga flor.
Da janela vejo o dorso ajaezado
de um elefante verde e pardo,
e a Pedra da Gávea é o tempo
que se move.
Volta a paisagem
ao sentido de seu ato,
perpassa os caminhos da sala e
tateia as costelas
de cada livro.
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terça-feira, 10 de abril de 2012
A CONSTRUÇÃO
W.B. Leal
Sei que este poema não será
o teu retrato ou talvez sequer resuma
o que há de tanto e vasto em ti,
pois toda infinitude e toda coisa bela
não cabem nos jarros da definição.
O que alcanço, e isto é o que conta
para a minha lembrança, é a tua
grandeza de árvore sobre a montanha,
pouso de pássaros cujas asas
tocam as extremidades da delicadeza.
Em mim ainda vivem as possibilidades
que a tua elegância acende quando chegas,
e, quando não estás, é a certeza
da tua voz o meu melhor silêncio.
Então eu te guardo no coração deste
poema, e embora seja tua toda poesia,
assim será, ainda, e entanto, por tua
ausência, ou enquanto não te encontro
para a construção dos dias.
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quarta-feira, 4 de abril de 2012
O ESPELHO
W.B. Leal
Quando trago o dia claro,
e alto e azul
sou a multiplicação
que em tudo reverbera como
um rio puro,
é o meu amor que acorda a vida.
Quando, raro, a alegria
descansa
para num descuido
de criança sofrer
a queda do mínimo degrau,
é o meu amor que estende a mão.
Quando a dor é tanta
que parece riscar com a sua
faca a garganta embaçada e
tudo sente e sofre
a sua ferida,
é o meu amor - que é paz - a temperança.
O meu amor tão longe e tão perto,
tão corpo e sentimento nesta casa
que habita,
e sendo em mim
o seu espelho, é também
o seu reflexo.
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A BÚSSOLA
W.B. Leal
Se a tarde inicia a sua curva
e as luzes ensaiam
a ancoragem do dia,
é dela
a claridade que resiste.
E assim o pouso das asas, o céu
que recorta
a Pedra da Gávea,
e todos os mapas e distâncias
que o silêncio inunda com
seu ruído de faltas.
E então quando o mar é uma
estrada que aos poucos
se apaga, e como
um cão
ainda cava a areia da praia,
é dela o sentido da noite
que se espalha,
e tudo se move, e arde, e espera.
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quarta-feira, 21 de março de 2012
CÉSAR LEAL
W. B. Leal
Nasceu nos Inhamúns. Terra cortada pelo sol
como os círculos de um sonho. Mais tarde
seria Pernambuco a sua pedra fundamental,
e a poesia - arte onde deixaria o seu nome.
Dedicou a vida a expandir os mapas de
estranhos e personalíssimos domínios.
Cada dia, para ele, foi uma conquista de séculos:
o outro também era parte de sua construção.
Soube a poética dos números e reinventou
símbolos e teorias. Estudou a história e as
ciências do homem. Em seu sonho andou
por Florença a relembrar guerras, pois antes
ensinara aos imperadores infalíveis estratégias.
Traduzia poemas e decifrava silêncios como se o mundo
fosse a sua mão. Conheceu as estrelas e a música
do espaço - merecia o seu nome numa constelação.
Enquanto falava, o tempo também era poesia.
Ardia um brilho de incêndio quando seus olhos
eram a festa de suas descobertas. Seria íntimo
de Coleridge e Wordsworth se os tivesse
alcançado numa mesma sala do tempo.
“Parece-nos estranho - diriam os ingleses -
alguém de tão longe saber tanto sobre tudo”.
Eu o chamo de mestre. Com ele aprendi a lembrar.
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terça-feira, 13 de março de 2012
terça-feira, 6 de março de 2012
A URNA DESCOBERTA
W.B. Leal
Como um livro ou uma palavra
lidos para além do seu sentido,
a sua força também é sua casa -
uva no cacho, certeza do abrigo -
dona do sim na perda de um não.
Impossível descrevê-la então:
antes, diria, o que dela eu guardo
e levo e lembro é mais que alento,
luz na escuridão do dia,
ilha de sonho e de verdade
sobre o mar da fantasia.
Agora, talvez eu confessasse que
bastava o seu sorriso, um riso
e nada mais para no silêncio ela
tudo vencer, tudo conquistar
e o mundo inteiro ser feliz por ela ser.
Mais que uma mulher, ela é sobre
o nada o tudo que amanhece,
urna que um dia imaginei e a
resposta foi sonho e poesia.
Antes, quem sabe, aquele sonho
bastaria para o meu desejo:
a falta que faltava era também
reflexo de um espelho que eu não tinha.
Revejo agora aquele espelho
e o que eu encontro é um outro gesto:
todo amor também quer o seu inverso,
todo homem quer seu sonho, teme o medo,
o nome que se guarda em seu segredo.
WBLeal
domingo, 4 de março de 2012
sábado, 3 de março de 2012
AS ESTAÇÕES
W.B. Leal
Quando na cama vazia
deito sobre a sua falta
e a minha mão
alcança o corpo de sua lembrança,
relembro o calor de nossas
fogueiras quando
no quarto escuro acariciava
as suas costas e via
acenderem clarões na noite branca.
Mesmo quando adormeço sobre a
distância que nos separa,
na cidade tão longe e vazia que é todo lugar
sem a sua companhia,
ainda sinto o seu cheiro ou a tradução
impossível do seu perfume
na alquimia de fogos
e silêncios que resumem o amor.
Ela é a mulher que eu amo e
que me ama. É dela
meu desejo e meu
pensamento inundados de possibilidades
quando penso no tempo.
Ela é a terra e a chuva,
o sol e a lua que no pêndulo das
estações completam a minha vida.
WBLeal
quinta-feira, 1 de março de 2012
A ÁGUIA
W. B. Leal
Como as garras
de uma águia
que no silêncio
rasga o espaço,
uma falta arde
em mim.
Em suas asas
dormem distâncias e
alturas
que lembram
um nome,
e esta ausência
a águia persegue
enquanto voa.
Se a minha águia
me vê,
eu a alimento,
e seu pouso
também é meu chão.
Na distância,
o seu silêncio é
um céu vazio:
nesse instante
grita a minha fome.
A minha águia me sabe
e eu a reconheço.
Nós somos
o fogo do fim
em todo começo.
WBLog
terça-feira, 21 de fevereiro de 2012
A VOLTA
W.B. Leal
Há os dias da terra e da colheita,
os dias de sombra, os dias do
silêncio e a hora da volta a casa.
Há a exatidão da forma e as
imperfeições que nos encontram.
Há a dúvida, o chão e as certezas
quando somos a coragem
de ser apenas um.
Há a fissão do duplo, o falso
reflexo do espelho que não
sabe ser sexo. Há a ilusão do
que se pretende metade e é pó.
Há que se viver em busca
do único sentido do que somos:
um espelho nu e sua luz a sós.
WBLog
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