terça-feira, 2 de agosto de 2011
ENDEREÇO
W.B. Leal
A cidade que perdemos,
não será outra,
dorme em nossa infância.
Do outro lado da rua, como do outro lado
do mundo, fala-se um nome que ouvimos há muito.
Ali,
jarros com o perfil do silêncio
quebram-se em luzes, alimentam o tempo,
recompõem o destino de alguma existência.
A rua, como uma olaria,
transporta o passado à sua eterna
submissão - o tempo presente -
e tudo respira o seu éter, reconstrói
o seu sonho, habita o mistério
que ferve em cada olho.
Nas calçadas, a miséria ainda
sangra o seu bálsamo escuro. Alguns desconfiam
que não poderão esperar - o passado lhes pesa,
e pesa a ausência
que se acostumou a não ter.
Em nossa memória serão construídas
novas cidades, mas tudo, no fim,
será um único retrato.
Alguma paisagem será vista. O que perder-se
habitará a resignação de nossas acomodações,
o solo de nossos mais profundos medos,
o comprometimento com o que, para nós,
não foi permitido.
A rua permanece com sua coreografia de caminhos
a ouvir daquela senhora uma nova pergunta.
Em seu corpo há uma dúvida que a rua
não pode apagar. O seu destino é outro,
como outra é a multiplicação de janelas
que não se abrirão para o seu espetáculo.
A rua e o tempo são esta senhora que procura.
Na olaria,
sua resposta é a cabeça
em que respira a luz.
in, Os ritmos do fogo, 1999.
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Um comentário:
Nao sou homem de muitas palavras,mas sua poesia, seus versos tem me tocado muitissimo!!
Bravo!!
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