domingo, 24 de julho de 2011
A MÚSICA
W.B. Leal
Quando tocava aquela música
na surpresa antiga dos dias,
eu me perguntava por que,
ou com que propósito, enfim,
a lembrança sempre trazia
com a sua nítida imagem
também o som do riso, o cheiro
da pele como coisa viva,
e tudo voltava somente
porque essa música dizia
que não, nunca haveria alguém
como ela, nunca, e repetia.
Como poderia, eu não sei,
alguém lembrar dessa maneira
de outro alguém que sequer sabia
da frase surda de tal música,
mesmo porque, no nosso tempo,
tempo em que vivemos como um,
aquela música não existia.
Fico pensando noutra música
que, mesmo sem a conhecer,
também passe por ela e diga
o mesmo. Talvez, finalmente,
o melhor será começar
tudo agora, viver de novo
a vida e encontrá-la pela
primeira vez, aí então
ouvir a música. Ou não.
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