sexta-feira, 5 de agosto de 2011



RETRATO DE COPACABANA
W.B. Leal

No fim da tarde,
a praia é tomada pelo descanso dos pombos.
A areia acende o espelho
que a luz deposita em cada ave.
Imitam lanternas
seus reflexos indefiníveis,
e carregam, na direção que apontam,
o arco da praia,
a máquina crepuscular da antiga hora.

Os pombos na areia
medem o pulso do estômago do escuro.
Vistos de longe,
são a explosão da pupila no movimento do branco.

Na calçada, alguns abandonam
o bando, perseguem as fêmeas - fustigam
o chão riscando intenções -
e num salto de caça,
encontram na cópula o instinto da fuga que subvertem.

À chegada da noite,
os pombos exibem a coreografia do espanto,
e o voo é um leque
sobre o peito pálido do mar.

in Os ritmos do fogo, 1999.

3 comentários:

Biagio Pecorelli (be.) disse...

Meu querido Wey... teus pombos em Copacapana fustigam o mesmo chão desse Recife azedo. Forte abraço. Belo!

Biagio.

Anônimo disse...

Eita, comentei sobre os pombos dessa praia com minha mulher e filhos, quando estivemos lá, em julho último - o quanto são íntimos de tudo e todos. Mas o poeta sempre vê muito mais. E melhor.

Lian Tai disse...

Deu ate saudade de andar pelas praias do Rio.