domingo, 15 de fevereiro de 2009

CINEMA


Filme: “O Casamento de Rachel”
Título Original: Rachel Getting Married (EUA, 2008)
Direção: Jonathan Demme
Elenco: Anne Hathaway, Rosemarie DeWitt, Bill Irwin, Tunde Adebimpe, Mather Zickel, Anna Deavere Smith, Anisa George e Debra Winger

Tudo o que se disser sobre este filme pode ser verdade. Aliás, sobre quase toda obra que sobreviva no mundo das artes. Com o cinema não é diferente, e como um quadro ou um poema, excetuando-se os clássicos, todo mortal pode gostar ou desgostar de algo. Mas a coisa mais verdadeira que se pode dizer sobre “O casamento de Rachel” é que se trata de um daqueles filmes improváveis a concorrer a um Oscar. Mas está. Anne Hathaway concorre a Melhor Atriz. Se ganhar a estatueta, torna-se mais raro ainda. Isto porque o filme tem – muito ao gosto das raridades da Academia – uma cara de filme independente. Se estivesse, há alguns anos, concorrendo no Sundance Festival, seria barbada. Assim, “O casamento de Rachel”, em alguns momentos, e não sem a proposital intenção do diretor, parece um documentário, ou até uma montagem de trechos caseiros feitos por um cunhado curioso dos bastidores de um casamento. Mas um casamento quase diferente. Este “quase” diferencial não está bem na história, costurada com certa lentidão por um roteiro minucioso e até bem urdido. A estranheza se dá num plano subliminar, acima ou abaixo da percepção comum de quem vai ao cinema só para ver um filme. A questão, por trás de uma trama relativamente comum – o casamento de uma moça cuja irmã problemática ensaia causar problemas –, se evidencia na aparência de festa das Nações Unidas, tamanha a quantidade de etnias e culturas misturadas, sem muita explicação, na salas e jardins da casa da noiva. Por isso também o filme ganhou um apelo globalizado e politicamente correto, começando pelos noivos: uma moça branca do continente e um rapaz negro do Havaí. Neste viés, é interessante ver a condução cuidadosa de Jonathan Demme, diretor do filme, em diálogos sempre harmoniosos e felizes entre as famílias dos noivos. Brancos e negros, numa sociedade americana incomum, adoram-se como amigos de infância, e não falta sequer o irmão do noivo que é soldado americano em férias do Iraque. A história, entretanto, está nas mãos de Kim, personagem de Anne Hathaway, segura e convincente num papel raramente sério – depois de uma princesa da Disney e uma secretária que aprendeu a vestir Prada -, dando à sua personagem a profundidade necessária para salvar uma narrativa insistentemente monótona. Paciente de uma clínica de reabilitação de drogados, ela volta para casa para assistir ao casamento da irmã, e lá se destampam os traumas da juventude que incluem a morte de um irmão pequeno. Há o dilema da culpa, um perdão inconsistente, e uma solução nos termos daquelas histórias em que “o seu rei mandou dizer” que salvaram-se todos. A nota curiosa num filme pouco curioso é a festa do casamento propriamente dita, onde mais uma vez as Nações Unidas são convocadas a emprestar figurantes japoneses, chineses, indianos (com seus instrumentos e músicas exóticas), negros e até, pasmem, sambistas brasileiras devidamente paramentadas com os adereços de uma Escola de Samba. Não há explicação para tantos amigos multirraciais, mas eles estão lá. Depois de muita música e dança, Kim volta para sua clínica e tudo termina bem, ou começa, já que apenas acabou a festa de casamento.

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