sábado, 14 de fevereiro de 2009

CINEMA

Filme: "O lutador"
Título original: The Wrestler, 2008, 115 min.
Direção: Darren Aronofsky
Roteiro: Robert D. Siegel
Com: Mickey Rourke, Marisa Tomei, Evan Rachel Wood, Ernest Miller, Todd Barry, Mark Margolis, Wass Stevens, Jodah Friedlander



Randy “The Ram” Robinson e Mickey Rourke: personagem e ator feitos um para o outro. Dito de outra forma podemos afirmar que a história da decadência encontrou sua realização – e não diríamos “dramatização” para não abusar do termo. “O lutador” é um desses filmes para esquecer. Ou para aprendermos que o cinema e a vida devem ser melhores. É a montagem pobre de um roteiro ruim que tenta contar o que o fundo do poço pode ser para um homem, já que para Rourke o lugar sempre foi familiar. A forma física atual do ator é perfeita para tal propósito. Ele próprio, por tudo que representa a sua história pessoal, é a melhor ponte entre a ficção e a vida real que o filme representa. Se o propósito do diretor Darren Aronofsky foi esse, alcançou-o em cheio.Um personagem/ator balbuciando resmungos entre lábios botoxicados numa cara deprimentemente plastificada é o retrato da decadência. Para completar a figura, tem-se músculos, muitos músculos mantidos à base de esteróides anabolizantes e um bronzeado artificial. Tudo isso mostrado com certa verdade no filme. O corte realista do roteiro, com relação aos lutadores de tal categoria, tem momentos de verdade lírica, quando The Ram revela que o seu melhor passatempo é um vídeo-game dos anos 80 – época em que ele viveu o seu apogeu midiático –, mas para o qual não consegue sequer a companhia de um adolescente, aborrecido com a precariedade tecnológica do joguinho do velho. Os primeiros 25 minutos do filme são quase insuportáveis, não fosse a aparição salvadora de Marisa Tomei, que também ressurge das cinzas no corpo – belo corpo, por sinal – de uma dançarina de um bar decadente de striptease. Mas há momentos engraçados no filme, se não considerarmos os simplesmente patéticos. Por exemplo, nas cenas em que Rourke assume o papel de vendedor de frios num mercadinho de subúrbio. No primeiro dia de seu novo trabalho, depois de tentar abandonar as “lutas”, o personagem para por uns segundos detrás da porta que separa o armazém da loja, assim como fizera durante tantos anos antes de entrar nos ringues. Parado ali, ele chega a ouvir os gritos e aplausos de uma multidão consagradora, para então adentrar a loja aonde velhinhas já estão prontas para exigir-lhe 50 gramas de maionese de batatas bem pesados. A historinha por trás da decadência do lutador, que tenta dar ao personagem um traço de humanidade perdida (ou nunca encontrada), é a busca de uma filha esquisita que mora com uma amiga esquisita num lugar esquisito. No fim, nada disso funciona, e como quem não tem como dar um ponto final a uma coisa sem pé nem cabeça, o diretor simplesmente apaga as luzes do palco enquanto o seu lutador mergulha no nosso esquecimento.

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