sexta-feira, 8 de julho de 2011
OS HOMENS DE PEDRA
W.B. Leal
Na rua molhada, sob a chuva que dança
tocando as janelas,
uma mulher está parada e olha o céu.
Enquanto escrevo o meu poema,
talvez ela sofra por um amor perdido,
talvez se lembre do seu luto, de sua razão, do seu abraço;
enquanto escrevo o meu poema, neste momento
em que a cidade escurece no frio da tarde,
um homem sonha uma ponte e um menino
atravessa a rua que um dia tocará aquela ponte;
outra mulher abre a porta de casa e
mais ninguém - ela pensa - navegou como ela o oceano da noite;
enquanto escrevo o meu poema, um homem talvez construa um barco,
outro homem, quem sabe, amanhã o navegue,
e ainda um outro, em algum lugar do mundo,
vê nascer uma criança que um dia cruzará o oceano;
(noutro ponto do país há um homem que nunca viu o mar
nem jamais irá tocá-lo, embora sonhe com ele);
enquanto escrevo o meu poema, um soldado
reinventa a alegria de um hino,
um exército comemora sua vitória e um homem sozinho
não desistirá da bandeira que representa uma mulher;
enquanto escrevo o meu poema, um homem cego desenha uma casa
e um homem do campo, que sequer estudou as palavras,
constrói o seu palácio com pedras e madeiras;
enquanto escrevo o meu poema,
uma mulher costura o vestido com o qual casará sua filha,
um menino chora o pai ainda sem túmulo,
e um poeta se apaixona pela primeira vez
e o seu amor será também o seu primeiro sofrimento;
enquanto escrevo o meu poema ou enquanto alguém o lê,
a vida escorre como a luz em minha janela,
a luz que chega dos homens que um dia acenderam a primeira fogueira.
WBLog
Assinar:
Postar comentários (Atom)
2 comentários:
Enquanto o poeta escrevia a amiga esperava para poder passear no seu tapete encantado de palavras , bebendo cada vírgula como que chega ao fim do mundo... Lindo!
li uma vez que sem poesia não há humanidade. agora, li de novo.
Postar um comentário