sábado, 23 de julho de 2011


LIRA
W.B. Leal

Se contrair a paixão,
há de cortar-se uma mão,
que alveja o branco dos olhos
como o fogo os santos óleos.
Amar demais é ser menos
no espelho que nunca vemos.
Quem dera dela fizera
só um meio da quimera!
Doce verso, árduo ingresso,
ao pecado controverso:
amor, pecado dos mortos,
que vivo é ser como os portos,
absorto aberto destino
que se encanta como hino...
Meninos são quais palhaços
sempiternos como os laços,
dura dor que sempre aninha
outra vida e não a minha.
Querer ser rei como os astros
que por súditos têm mastros,
velando as cartas de amor
que se esquecem num vapor.
O mal do bem não tem fim
se o amor é como em mim.

in O Aedo, 1989.

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