quinta-feira, 20 de janeiro de 2011
LES VIVANTS - Un tableau poétique
W.B. Leal
Ela falava do tempo como retratos de relógios acesos. A alegria de sua voz no silêncio da noite era como a sensação da eternidade, e assim eram todas as lembranças que agora na sua cama dormiam. Tudo era um susto desatando seu sorriso, desamarrando das coisas os laços que cada tristeza e cada alegria tinham construído através dos anos. Naquele tempo, o amor foi um rio vertical que o seu corpo bebeu como uma boca marinha. Ela às vezes perguntava: “Você me ama ainda?”... E tudo tremia como um mapa de areia num barco de sal, como um fogo esquecido na gruta do mar. Ele nunca respondia... Às vezes, ela dizia: “Você nunca amou ninguém, não sabe que o amor é uma coisa viva”, e gritava, e chorava, e corria, mas não via que o amor era o naufrágio do qual ela mesma era a única sobrevivente, a única morta-viva depois de tantas tempestades. Ela nunca acreditou que ele tivesse outra pessoa. Ele era um amuleto, uma certeza, era como um santo de quem não se tem notícia de pecado. Mesmo depois de tudo, depois de todos os mortos contados um a um nos álbuns de família, nas fotos de viagens, nos bilhetes que durante anos eles trocaram como se fossem apólices de eternidade, ela ainda lhe perguntava: “Por que, então, o amor? Porque tanta promessa, tanta história vivida, tanta preparação para uma coisa que simplesmente pode se chamar de nada?” E ele dizia: “Nunca haverá garantia, não se deixe levar por esse deus de pés de barro: o teu amor é um pássaro de fogo, o meu é um ícaro falhado.” Mas ela não aceitava a tristeza que escorria das estrelas, ferindo com a espada da noite a sua noção de amor e de família. Uma vez ele disse: “O amor também está nos silêncios, na dor que se regenera, na solidão que sobrevive”. E ela respondeu: “Eu quero a fogueira que justifique uma alegria”.
WBLog/foto: Ana Claudia Lubitz
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2 comentários:
Gostei muito!
As palavras entranhadas de sensações| sentimentos|tempos circulares... dizem!
As imagens belíssimas falam numa sintonia fina.
Avante! Precisamos da sua melodia!
Beijos,
Dayse.
Adoro essas palavras!
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