quarta-feira, 9 de novembro de 2011


ESTE DIA
W.B. Leal

Acordas da página para o seu vazio sagrado.
Olho que se ergue sobre os olhos da casa,
onde não há voz, distância ou leitura,
onde somente preocupa-se o tempo
em recolher as correias de sua carroça de plumas,
reerguer suas rodas sobre a esteira da terra,
rever seu engenho, que nunca se quebra
ou esquece - o tempo apenas reconhece -
e há apenas a noite e sua sacola de cinzas.

Acordas para o espaço que cabe em mim
como um castelo de infância,
para uma história de infância que não
a minha - esta serpente de vidro
numa garrafa de prata -
para a largura do dia aonde cresce a estrada,
para uma vila ou uma estrada por onde
passam todos os dias e há apenas a noite
e seu escudo de luz na garganta do céu.

Acordas ainda para a lembrança que
em mim é como um carneiro e sua casca de laços,
vago e azul sob o amor que fabrica
e que também é primavera:
de minha cidade abençoo as bandeiras
desse cortejo de línguas, e lento e interminável
alimento com música a alvorada de cores.
Em meus mapas não há outro nome
que este símbolo azul.


WBLog, in Os Círculos Imprecisos, massao ohno editor, SP, 1994.

Um comentário:

Anônimo disse...

Bravo!!!