segunda-feira, 31 de janeiro de 2011
LES MURS ENCHANTÉS
W.B. Leal
Nos fins de semana havia um silêncio que inundava a cidade, um silêncio que acendia fogueiras toda vez que ela dizia A beleza também é uma lembrança Um jeito de acordar quando se olha, como se alguém lembrasse da casa em cujas paredes nasceram palavras, tudo de novo uma festa como na primeira manhã, e ele perguntava Lembras da sala onde os quadros eram livros que reescrevias, onde as paredes eram feitas de invenções e certezas, de coreografias e poemas? Hoje ela renasce a cada leitura de tua lembrança, e o silêncio é só o branco que aqueles quadros preenchem com o teu nome.
WBLog
sexta-feira, 28 de janeiro de 2011
ALLURE
W.B. Leal
Ela disse Acho que por você eu me apaixonaria Você seria a outra certeza junto da qual a minha alegria fundava um país, e então seus olhos, como duas cidades que na distância da noite são uma única festa, pareciam concordar, quando ele negava, sem saber por quê, a sua pura felicidade Não sei o que em mim é este outro lugar que mesmo feliz ainda precisa de sua distância Mas ali eu revejo os teus olhos na mínima superfície da luz, desejando que assim - O teu amor é uma cidade que eu levo - ela compreenderia - Eu sempre procurei a tua liberdade - e os dois para sempre iriam lembrar - O meu amor é o país que quiseres - sempre - O teu amor são as minhas cidades - sempre - O meu amor também é essa distância - sempre - O teu amor é para onde eu regresso.
WBLog/foto: Ana Claudia Lubitz
segunda-feira, 24 de janeiro de 2011
LES ASSIS
W.B. Leal
Logo ela não respondeu, quem sabe pensou Talvez isso seja loucura Talvez ele seja apenas uma desmedida aparição que se dissolverá na claridade do dia, afogando-se, ela, num afastamento que se confundia com o primeiro silêncio, ele pensava A sua distância é uma máquina feroz Mastiga os meus ossos como fez o seu olhar, e então recalculava as palavras, repisava cada sílaba, sentia o vapor que a sua respiração provocava nos vidros das ruas, Ele deve ser louco, ela escreveu na margem do caderno, Quem é este homem que no meio de um dia descortina com a notícia de seu nome o drama de um tango Talvez seja o seu divertimento os jogos de números e as adivinhações Talvez seja pura sorte esse palco agora tocado por quatro pés descalços, E assim o tempo passou, ele desceu as escadas, carregou em seu corpo a alma do espelho, enquanto dizia Talvez isso seja loucura Talvez ela seja apenas uma desmedida escuridão que se dissolverá na claridade do dia.
WBLog/foto: Ana Claudia Lubitz
domingo, 23 de janeiro de 2011
A MAÇÃ
W.B. Leal
Ela disse Não sou daqui, e ele buscava as palavras para traduzir seu espelho, a semelhança do Vejo algo em comum entre a minha alegria e o teu silêncio Entre minhas cidades e os teus mundos, ele poderia dizer que a sala não existira quando por mais de uma vez a viu sentar tocando a pele de uma maçã, e a maçã se iluminava, enquanto ele apenas ensaiava Não conheço uma cor que não deseje a tua elegância, ela anotava livros, folheava enciclopédias à procura do que jamais traduziria a sua beleza, quando ele enfim revelou, com o silêncio que guardava entre suas palavras, o desejo de dizer Você iluminou o meu dia.
WBLog/foto: Ana Claudia Lubitz
sábado, 22 de janeiro de 2011
LES VIVANTS - Le matin essentiel
W.B. Leal
Na manhã seguinte, a vida já recuperara seu verde, sua pedra, seu espaço de cor. Ela escutara notícias de outros desastres, de outros afastamentos que como tantas mortes já não causavam estranhamento. O tempo, ela ouvira, arrasta os vivos e apaga os mortos. Por isso ela não sabia da tristeza de um vizinho nem da alegria dos antepassados de há duzentos anos: nada lembrava o pássaro ou o cão que mesmo amado perdeu seu rastro no caminho da vida. Ela agora percebia as novas separações como uma morte natural, como um nome ou uma cor que o tempo apaga para a renovação de tudo. Acordara como se na noite anterior uma dança com bandeiras tivesse festejado a recriação do mundo. Ela então era a sua nova vida, e tinha que recomeçar, como um rio recomeça, como um sobrevivente, como o dia. Na rua, uma procissão de carroças aguardava em sua porta, e cheias de caixas e baús as carroças ostentavam o acúmulo de certos panos coloridos que eram confundidos com bandeiras. Havia instrumentos que alegraram outras festas e pergaminhos que contavam, com letras que caíam no esterco, histórias que agora eram quase uma invenção, uma fábula onde ela fora incluída como era costume nas histórias da infância. A vida - ela percebeu - começava outra vez. Os pergaminhos não se perdiam, apenas se apagavam das velhas letras para serem escritos outra vez. Os instrumentos, de dentro dos baús, continuavam sozinhos a ser música. Os cavalos, então, começaram a andar.
WBLog/foto: Ana Claudia Lubitz
quinta-feira, 20 de janeiro de 2011
LES VIVANTS - Un tableau poétique
W.B. Leal
Ela falava do tempo como retratos de relógios acesos. A alegria de sua voz no silêncio da noite era como a sensação da eternidade, e assim eram todas as lembranças que agora na sua cama dormiam. Tudo era um susto desatando seu sorriso, desamarrando das coisas os laços que cada tristeza e cada alegria tinham construído através dos anos. Naquele tempo, o amor foi um rio vertical que o seu corpo bebeu como uma boca marinha. Ela às vezes perguntava: “Você me ama ainda?”... E tudo tremia como um mapa de areia num barco de sal, como um fogo esquecido na gruta do mar. Ele nunca respondia... Às vezes, ela dizia: “Você nunca amou ninguém, não sabe que o amor é uma coisa viva”, e gritava, e chorava, e corria, mas não via que o amor era o naufrágio do qual ela mesma era a única sobrevivente, a única morta-viva depois de tantas tempestades. Ela nunca acreditou que ele tivesse outra pessoa. Ele era um amuleto, uma certeza, era como um santo de quem não se tem notícia de pecado. Mesmo depois de tudo, depois de todos os mortos contados um a um nos álbuns de família, nas fotos de viagens, nos bilhetes que durante anos eles trocaram como se fossem apólices de eternidade, ela ainda lhe perguntava: “Por que, então, o amor? Porque tanta promessa, tanta história vivida, tanta preparação para uma coisa que simplesmente pode se chamar de nada?” E ele dizia: “Nunca haverá garantia, não se deixe levar por esse deus de pés de barro: o teu amor é um pássaro de fogo, o meu é um ícaro falhado.” Mas ela não aceitava a tristeza que escorria das estrelas, ferindo com a espada da noite a sua noção de amor e de família. Uma vez ele disse: “O amor também está nos silêncios, na dor que se regenera, na solidão que sobrevive”. E ela respondeu: “Eu quero a fogueira que justifique uma alegria”.
WBLog/foto: Ana Claudia Lubitz
segunda-feira, 17 de janeiro de 2011
domingo, 16 de janeiro de 2011
sexta-feira, 14 de janeiro de 2011
A DISTÂNCIA
W.B. Leal
A distância é uma janela sobre uma estrada.
Como a janela, a distância esquece e
faz lembrar. Como a estrada, a distância
perde e faz renascer.
A distância é a corrente que dá ao barco
a segurança do cais, é a corrente que
no barco dorme sobre o convés em alto mar.
A distância é o pássaro que canta nas grades de uma gaiola
e o pássaro que silencia na árvore mais alta.
WBLog/foto: Ana Claudia Lubitz
quinta-feira, 13 de janeiro de 2011
ORIGAMI
W.B. Leal
Um origami é a escultura de um desejo. É a poesia que cansou de ser poema e quer seu corpo, seu sopro, seu volume. Um origami é uma estrela e um pássaro quando a estrela e o pássaro decidem ser um pássaro que brilha. Um origami é uma estrela que voa e um pássaro que não voa, mas ambos são eternos em sua poesia.
WBLog
quarta-feira, 12 de janeiro de 2011
AFINIDADE
W.B. Leal
Alguém dirá que afinidade é um espelho. Mas os espelhos não refletem o não visto, não traduzem as entrelinhas, não alcançam as vozes, os cheiros, os segredos... Assim, a afinidade seria a verdade por trás da cena, as secretas luzes, os medos, a coragem, e todos os nomes que a poesia carrega como um rio, mas que alcança os dois lados do vidro.
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sábado, 8 de janeiro de 2011
quinta-feira, 6 de janeiro de 2011
terça-feira, 4 de janeiro de 2011
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