terça-feira, 23 de junho de 2015

CLARICE
W. B. Leal

Ela disse que gosta de Clarice,
da lâmina afiada refletida em
sua escrita, em seus olhos
de fogueira - eu sabia que era isso:
era isso que agora me diziam
aqueles olhos de ágata.

Eu devia ter contado que
em minha infância no Recife
costumava passear na mesma
rua em que Clarice morara, e olhara
o chão, as portas - era perto do
colégio - enfeitiçando os muros.

Esqueci-me de contar - ela estava
do meu lado, eis a razão -
que na praça em frente à casa
de Clarice muitas vezes eu sentei
observando as janelas
que incendiavam as manhãs.

Uma noite pensei ter avistado
o sol refletido na vidraça -
seus olhos de ágata eram a luz
de maçãs na escuridão - quando,
despertando no meu sonho, ela disse:
- Esse sol era o sonho de Clarice.



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