domingo, 9 de outubro de 2011


A BANDEIRA
W.B. Leal

I

Quando falávamos, sabíamos que a distância
era um passo a ser vencido,
mas todas as estradas não seriam maiores
que a pequena palavra que reacende o mundo.
Éramos então como um livro que aos poucos despertava
quando era tocado pela lembrança do outro.
Planejávamos a costura dos nossos desejos como
se desfaz um bordado e tudo precisa ser unido outra vez.
Eu contava os minutos em cada incêndio do sol
enquanto ela abandonava festas para escrever notícias
que me deixavam feliz como quem recebe um aceno.
As noites voltavam a ter sentido, a distância
encolhia seus braços e o meu corpo recobrava
o seu ritmo, o timbre da alegria que prenuncia uma dança.

II

Agora era o domingo a preparar com seu desenho
as colunas de uma enorme construção. Cinco dias
não são cinco anos, mas vergam sob o peso do mundo
quando alimentam um único desejo. Sabíamos que a semana
seria uma corrente de barcos num rio seco e lento,
haveríamos de encontrar outros dons, outros caminhos,
e a nós caberia o peso da invenção.
Faltaria em tudo, porém, o que apenas a falta sabe reclamar.
Cada sentença que a fome proclamasse
seria acatada pelo meu exército, e como um menino
que derruba soldados eu avançaria sobre o calendário.
O corpo aprendeu a resistir,
pois como na história de todas as guerras
a paz da bandeira era a tradução do seu nome.


WBLog

Um comentário:

Dayse Luna disse...

Uma Odisséia... que Penélope redimensione o tempo, que a tessitura ressurja em cada espera. Eis a pax!