terça-feira, 29 de março de 2011
A DANÇARINA E O POETA
W.B. Leal
A dançarina, um dia, propôs ao poeta: “Se tu me ensinares a fazer uma poesia, eu te ensino a minha dança”. O poeta, feliz por encontrar a dançarina, respondeu que, ainda que lhe ensinasse a poesia, não poderia dançar: “É que estou preso à liberdade, e isto não se pode ensinar. Mas vou te fazer um haikai”. E escreveu:
“Leve borboleta,
Asa e lagarta de flor:
Lembrança que leva.”
Não é fácil ensinar a liberdade, e para a primeira tentativa do poeta, a dançarina torceu o nariz. “Não é isso o que eu procuro”, ela disse, “preciso de um poema que não seja tão complicado”. O poeta, desafiado em seu orgulho e competência, antes de voltar a escrever começou a desenhar. Queria ver a forma antes da palavra, a ideia antes do intento. Num minuto, tinha a nova criação:
“Beija-flor parado,
o leque o olho não vê:
gesto e sentido somados.”
Mais uma vez a dançarina não se satisfez. “Ainda não consigo entender”, ela disse, cabisbaixa. “Não escrevas sobre coisas tão difíceis!” O pobre poeta, já meio sem jeito, olhou encantado para a dançarina e respondeu: “É que estás presa ao que não podes mais ver, e assim nenhuma palavra poderá traduzir o que eu sinto, pois eu sou livre para criar o que tu não podes compreender...” E logo disse: “Mas acho que já tenho uma ideia, e mesmo que a falsa liberdade dos teus movimentos te impeçam de entender a verdadeira liberdade, vou tentar mais uma vez!”. E o poeta escreveu:
“Salto sobre o rio.
O tigre acorda o espaço.
Tudo é ponte e passo.”
WBLog
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4 comentários:
Pausa na travessia do vulcão paulistano... Ar!! Q belo!!! Bjs tds. A.
Adoro sempre.
lindo...maravilhoso!
"(...) tudo é ponte e passo" Perfeito!
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