terça-feira, 19 de abril de 2011


O PARQUE
W.B. Leal


Foi quando a falta inundou a distância que eles perceberam que seu peso era maior que a simples saudade. Eles relembravam calçadas, vitrines, parques e avenidas por onde dias antes derramaram uma alegria que apenas os corpos entendem. Mas os corpos não conseguem lembrar além da falta de calor, não podem curar a falta do amor que as noites consomem, a falta do riso que ilumina a fala, das mãos entrelaçadas que são muito mais que sua extensão amorosa. No entanto - eles sabiam - aquela cidade não seria mais a mesma depois das quatro noites reinventadas quase onze anos depois, e enquanto ela perguntava “você já se reacostumou comigo?”, ele sentia que o seu corpo nunca preenchera aquele vazio com outro corpo ou lembrança, e que a presença dela também fora a ausência que por tantos anos se multiplicara como um espelho dentro de outro espelho. Agora o silêncio inundava a distância que eles planejavam novamente apagar, e a certeza do outro era a alegria veloz das bicicletas do parque.

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