sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

JÚLIA
W. B. Leal

Abramos espaço para falar de Júlia.
Como toda mulher,
Júlia é uma mulher e uma menina.
Mas nesse momento,
no tempo retido de toda lembrança,
Júlia é uma geografia de luzes
coroada pelo sol - perfil de rainha
tocada pela neve -
anúncio de alta e selvagem beleza.

Júlia é uma mulher trans.
E ainda Júlia é uma das mulheres
mais belas entre todas as mulheres.
Júlia é o encanto
que desenha a paisagem,
é o caminho dos trilhos
cujos dormentes
são guerras vencidas a cada segundo,
poesia guardada por sua passagem.

Júlia me contou que adora café.
Brindamos em pensamento.
Há poesia no coração de Júlia.
A delicadeza também é uma coragem.
As angústias de Júlia
são as angústias
de todas as mulheres,
e correm sobre os trilhos
dos mesmos sonhos e tormentos.

Júlia é o traço da vida
sobre o risco da montanha.
Júlia é a defesa da janela
que corre sobre a liberdade.
Júlia é o instante em que a luz
é tocada pelo vento.
Lá fora os mortos e os loucos
ainda dormem.
Júlia é o nascimento de Vênus.

29 de Janeiro, Dia Nacional da Visibilidade Trans.

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