terça-feira, 10 de abril de 2012



A CONSTRUÇÃO
W.B. Leal


Sei que este poema não será
o teu retrato ou talvez sequer resuma
o que há de tanto e vasto em ti,
pois toda infinitude e toda coisa bela
não cabem nos jarros da definição.
O que alcanço, e isto é o que conta
para a minha lembrança, é a tua
grandeza de árvore sobre a montanha,
pouso de pássaros cujas asas
tocam as extremidades da delicadeza.
Em mim ainda vivem as possibilidades
que a tua elegância acende quando chegas,
e, quando não estás, é a certeza
da tua voz o meu melhor silêncio.
Então eu te guardo no coração deste
poema, e embora seja tua toda poesia,
assim será, ainda, e entanto, por tua
ausência, ou enquanto não te encontro
para a construção dos dias.

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quarta-feira, 4 de abril de 2012


O ESPELHO
W.B. Leal

Quando trago o dia claro,
e alto e azul
sou a multiplicação
que em tudo reverbera como
um rio puro,
é o meu amor que acorda a vida.

Quando, raro, a alegria
descansa
para num descuido
de criança sofrer
a queda do mínimo degrau,
é o meu amor que estende a mão.

Quando a dor é tanta
que parece riscar com a sua
faca a garganta embaçada e
tudo sente e sofre
a sua ferida,
é o meu amor - que é paz - a temperança.

O meu amor tão longe e tão perto,
tão corpo e sentimento nesta casa
que habita,
e sendo em mim
o seu espelho, é também
o seu reflexo.

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A BÚSSOLA
W.B. Leal

Se a tarde inicia a sua curva
e as luzes ensaiam
a ancoragem do dia,
é dela
a claridade que resiste.
E assim o pouso das asas, o céu
que recorta
a Pedra da Gávea,
e todos os mapas e distâncias
que o silêncio inunda com
seu ruído de faltas.
E então quando o mar é uma
estrada que aos poucos
se apaga, e como
um cão
ainda cava a areia da praia,
é dela o sentido da noite
que se espalha,
e tudo se move, e arde, e espera.

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